ELAS ABRIRAM ALAS: AS PRECURSORAS NEGRAS QUE MUDARAM A HISTÓRIA DO CARNAVAL

Tia Ciata, Chiquinha Gonzaga, D. Ivone Lara e Mãe Menininha do Gantois são algumas dessas personalidades negras que fizeram do carnaval uma manifestação mais democrática e diversa.

Escrito por Nathália Rodriguez

Revisado e publicado por Helen Silva e Maria V. Gonçalves

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O Carnaval brasileiro tem suas raízes nos entrudos, uma prática introduzida pelos portugueses durante a época da colonização, na qual as pessoas saíam pelas ruas nos dias que precediam a Quaresma para participar de batalhas com baldes, seringas e bisnagas d’água, assim como lançar limões e laranjas perfumadas e bolas de cera recheadas com água aromatizada. Esse hábito rapidamente se disseminou do Rio de Janeiro para outras cidades do país.

A prática acontecia sem a participação ativa das mulheres, isso porque, nessa época, a função atribuída às mulheres era cuidar do lar. De acordo com Luiz Felipe Ferreira, criador do Centro de Referência do Carnaval e professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: “Poucas mulheres participavam, porque, durante todo o período colonial, a rua era um espaço masculino. O papel da mulher era ficar em casa”. O pesquisador reitera que era mais comum as mulheres participarem de festas dentro de suas casas, afirma: “essas festas também eram uma forma de contato social e uma chance das mocinhas assumirem a iniciativa nas relações amorosas, ao jogar um limão-de-cheiro no rapaz em que elas estavam interessadas”. Na festa de carnaval, às mulheres era permitido apenas assistir à festa nos camarotes, eram proibidas de descer ao salão.

A participação da mulher no Carnaval começou a ser menos controlada com o surgimento de cordões, blocos e ranchos carnavalescos na segunda metade do século XIX. Esses grupos eram formados por amigos e familiares das classes sociais menos privilegiadas e desfilavam a pé pelas ruas das cidades. Inicialmente, a presença feminina era muito limitada ou até mesmo inexistente nesses desfiles devido à proibição da polícia. Somente nas primeiras décadas do século XX, com o fim da repressão, é que as mulheres começaram a participar em maior número.

O Carnaval tal como conhecemos atualmente foi largamente influenciado pelas “tias”, mulheres residentes da Bahia, que gentilmente permitiam que os sambistas se reunissem em suas casas ao longo do ano, proporcionando-lhes um ambiente seguro no qual pudessem se encontrar sem sofrer perseguição policial. Durante o final dos anos 1920 e início dos anos 1930, ocorreu uma mudança significativa no Carnaval, onde as primeiras escolas de samba foram fundadas e, consequentemente, as mulheres começaram a ter um papel importante nos desfiles. 

Com o passar do tempo, elas conseguiram conquistar outras posições nas escolas de samba. O historiador Simas destaca que em 1939, Dagmar da Portela se tornou a primeira mulher a desfilar na bateria. Já na década de 1950, ocorreram os primeiros sambas-enredo escritos por mulheres. Carmelita Brasil, da Unidos da Ponte, foi a pioneira na composição e, em 1965, Dona Ivone Lara se tornou a primeira mulher a escrever um samba-enredo para uma grande escola. Assim como elas, destacamos:

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Tia Ciata (1854-1924): A matriarca do samba e a casa que revolucionou o Carnaval, Tia Ciata era uma baiana que vivia no Rio de Janeiro no início do século XX. Sua casa era um ponto de encontro para músicos e compositores de samba, e ela é considerada uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do samba.

Chiquinha Gonzaga (1847-1935): A maestrina que deu ritmo ao Carnaval, Chiquinha Gonzaga foi uma compositora, pianista e maestrina brasileira. Ela é considerada a primeira mulher a compor um samba e é conhecida por suas músicas carnavalescas como “O Abre Alas” e “Corta Jaca”.

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D. Ivone Lara (1921-2017): D. Ivone Lara foi uma sambista brasileira, compositora e cantora. Ela foi a primeira mulher a ter um samba-enredo gravado e é considerada uma das maiores sambistas de todos os tempos. Algumas de suas músicas mais famosas incluem “Sonho Meu” e “Alguém Me Disse”.

Mãe Menininha do Gantois (1894-1986): Mãe Menininha do Gantois foi uma líder religiosa afro-brasileira que desempenhou um papel importante na preservação da cultura Candomblé. Ela também foi uma importante figura no Carnaval de Salvador, Bahia.

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O legado deixado pelas pioneiras do Carnaval é um testemunho de habilidade, determinação e originalidade. Seu papel fundamental na formação da festa que tanto apreciamos deve ser preservado e honrado, servindo de inspiração para as mulheres mais jovens ocuparem seus espaços tanto no Carnaval quanto na sociedade em geral.

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