Campanha global antirracista movimenta a ética do amor entre intelectuais brasileiros e estrangeiros.

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Intelectuais de diversas nacionalidades promovem encontro em apoio ao brasileiro e ativista de direitos humanos Mamadou Ba (na foto à esquerda), que vem sendo acusado de difamar um neonazista português. No jantar, estiveram presentes personalidades como os escritores Mia Couto e Grada Kilomba, o Ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida e os atores Paulo Betti e Antônio Pitanga.

 

O intuito da reunião entre grandes nomes nacionais e internacionais dos campos intelectuais e artísticos culturais, foi de “promover e assegurar a dignidade humana em todos os lugares e lutar contra todas as formas de intolerância e opressão”, afirmou Ivanir dos Santos, anfitrião do encontro.


A necessidade de reunirmo-nos para lutar contra toda opressão criminosa racista, fascista e neonazista, auxilia na quebra de estigmas gerados em relação às pessoas negras no mundo, sendo de extrema importância para o combate ao racismo e outras formas de violência. 


O estigma gerado para afirmar a superioridade de alguém, em detrimento das características de outrem, promove um sentimento e ações violentas que agridem a subjetividade do estigmatizado. Aprendemos com o tempo, que aqui no Brasil, essa estigmatização dos corpos abala principalmente pessoas negras, que habitam o mundo do subemprego,  com um pouco mais de ênfase em relação às pessoas  de pele preta, marrom ou retinta. Mas, dentre os subjugados, estão as pessoas pretas de modo geral, independente do ramo profissional que ela atue.


O estigma é portanto, uma ferramenta dos variados tipos de racismos, sobretudo o estrutural. A força de trabalho, a mão de obra com a qual  essa estrutura racista foi criada, é majoritariamente negra. No entanto, como forma de perpetuar os racismos e aniquilar, invisibilizar os corpos negros, usa-se do estigma para subjugar essa força de trabalho, fazendo com que subjetivamente, pessoas negras, sobretudo as retintas, se coloquem numa posição de inferioridade em relação a pessoa não negra. O que não ocorreu certamente com Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo em Portugal.


Aproveitando-se da colonização dos corpos, o estigma é impregnado de ódio, e hoje, após uma virada política extremamente urgente e necessária, engendrada principalmente pelos movimentos sociais e sociais negros, o que também chamamos de O BEM VENCEU O MAL, acompanhamos em certa medida os resquícios da cólera fascista, um pouco do que Mills chamaria de “Ignorância Branca”, não mais latente, e sim exacerbada.

 

A Ignorância Branca tratada por Mills, nos faz refletir sobre a incapacidade de algumas pessoas em crer que a cor da pele não influencia no caráter dos indivíduos. Por isso, pensar que é superior  a outros seres humanos por um fator biológico é considerado pelo intelectual, uma tolice. 

 

E como tratar os ignorantes? Bom, Bell Hooks nos chama atenção para a pedagogia do amor. Ela diz: “ Todos os grandes movimentos por justiça social de nossa sociedade têm enfatizado fortemente uma ética do amor”, em contraponto, ela reflete: “percebi que poucos escritores, sejam homens ou mulheres, falam do impacto do patriarcado, da forma como a dominação masculina sobre mulheres e crianças é uma barreira para o amor”. (Hooks, p. 20 e 30).

 

Diante das afirmações de Hooks e frente aos discursos de ódio como o proferido recentemente, pelo vereador Sandro Fantinel, em Caxias do Sul /RS, por exemplo, busquemos compreender que a ética do amor prevalecerá quando a lógica civilizatória patriarcal for interrompida, quando discursos carregados de estigmatização forem evitados, desde a base familiar até às câmaras legislativas.

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