SE A COR DESSA CIDADE SOU EU, COM QUAIS VERSOS POSSO ELA CANTAR? UMA DISCOGRAFIA URBANA PARA SORRIR E CHORAR

A interação entre afetos, relações raciais (negras e brancas) e espaço urbano é a essência deste texto, apresentada aqui por meio de escrevivências musicais que versam sobre a cidade de Salvador. Partindo da concepção de que existe um regime afetivo de e entre corpos negros na e pela cidade, me propus a fazer uma investigação para (re)conhecer e qualificar os afetos proeminentes nesta dinâmica, desvendando as causas, a forma como as populações negras são afetadas e como (re)agem a esta regência. A poética dos textos das canções percebe a capital baiana por meio da relação entre segregação urbana e desigualdades raciais, além de outros fatores. A cidade é apresentada com processos intensos de desumanização de corpos e lugares negros, amparados por imaginários que refletem estigmas e estereótipos negativos e consubstanciados por péssimas condições urbanas de vida. O resultado disso é uma produção de espaço urbano orientada por conflitos raciais, onde a branquidade aprisiona a negritude citadina junto aos afetos derivados da tristeza. Deste modo, diante da ausência/presença do poder público, que é branco, são os próprios grupos negros que compartilham apoio entre si e (re)agem. Uma das formas encontra-se ancorada nas culturas afro, especialmente no campo da música, com vistas a produzir afetos de alegria que lhes são constantemente negados. Com isso, há também uma produção de espaço negra que se baseia na alacridade, em disputa contra a tristeza. O fazer musical-cancioneiro-autoral se mostra atuante em várias frentes, suscitando formação de organizações e grupos musicais negros que, por sua vez, delineiam estratégias que garantem humanidade aos corpos e aos lugares negros, despertando também a consciência para com a própria negritude e as violências compulsoriamente recebidas. Assim, as escrevivências musicais revelam torpores e amores de ser uma pessoa negra na cidade de Salvador.

Como citar...

Sales, John Max Santos. SE A COR DESSA CIDADE SOU EU, COM QUAIS VERSOS POSSO ELA CANTAR? UMA DISCOGRAFIA URBANA PARA SORRIR E CHORAR. Tese – UFRJ. Rio de Janeiro, 2024

John Max Santos Sales

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Sergipe (2010), Tecnólogo em Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Sergipe (2010), Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2013), especialista em Educação Empreendedora pela Pontifícia Católica do Rio de Janeiro (2017) e Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é professor do quadro efetivo da Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS).

Pular para o conteúdo