Diante dos processos históricos de discriminação racial na sociedade brasileira e das dificuldades enfrentadas por estudantes negros para acessar cursos de mestrado e doutorado, mesmo após a implementação de políticas afirmativas, esses estudantes perceberam a importância de se mobilizarem para ajudar pessoas interessadas em ingressar na pós-graduação. Isto levou a criação de cursos preparatórios para pós-graduação voltados para alunos negros e integrantes de outros grupos minoritários com o objetivo de compartilhar conhecimento sobre esses cursos e os possíveis percalços da experiência universitária de maneira geral. Essa iniciativa resultou na formação de uma comunidade de aprendizado (termo cunhado por bell hooks) que valoriza tanto a produção de saberes quanto o apoio mútuo, questionando os valores meritocráticos como o individualismo. A meritocracia remonta às origens do pensamento ocidental moderno/colonial e os ideais civilizatórios. Sua lógica se apoia em valores universais como igualdade, justiça social e excelência intelectual, porém silencia a relação do mérito com a herança racial colonial na educação. Isso ocorre especificamente no ambiente acadêmico da pós-graduação como locus da produção científica na qual se destaca os privilégios da branquitude como “sujeito do conhecimento” enquanto os indivíduos de minorias políticas eram relegados ao lugar de “objetos de estudo/interesse”. Desse modo, os cursos preparatórios destacam a relação entre mérito e racismo, evidenciando a importância da cooperação racial e da coletividade inspiradas na filosofia quilombola e em demais tradições afrodiaspóricas como forma de resistência às estruturas racistas presentes na sociedade civil, por vezes mascaradas pelo discurso meritocrático.
Silva, Renata Nascimento da. Por uma ética coletiva negra: os cursos preparatórios para Pós-Graducação e o tensionamento do dispositivo meritocrático na Universidade. Tese – UERJ. Rio de Janeiro, 2023.
Pesquisadora de Pós-Doutorado no Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa (DER – UFV) . Doutora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGCOM/UERJ) (2018-2022) com bolsa CAPES. Mestre em Comunicação pelo PPGMC/UFF (2016-2018). Especialista em Mídias Digitais pela Universidade Estácio de Sá (2012-2013); onde também concluiu a graduação em Comunicação Social/Jornalismo. Integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Arte e Redes Sociotécnicas do Prof. Dr Fernando Gonçalves e do Grupo de Estudos em Relações Raciais do Brasil no Laboratórios de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC/UFRJ). Foi bolsista Proatec do Laboratório de Mídias Digitais (LMD/CIBERCOG/UERJ). Indicada pelo PPGCOM/Uerj como melhor tese em 2023 aos prêmios Compós e Capes de Teses. Tem interesse nos seguintes temas: (1) cultura digital; (2) redes sociais; (3) publicidade; (4) interfaces entre educação, comunicação e meritocracia; (5) relações raciais; (6) representações sociais e identidade; (7) dispositivos de poder
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