Geo-grafias racializadas: comunidades quilombolas e natureza em disputa (Seabra – Bahia)

Esta tese, tendo como foco as comunidades quilombolas de Seabra (Chapada Diamantina – Bahia), aborda e reflete sobre as questões raciais e de natureza como duas dimensões que além de articularem-se entre si, também, atravessam e ampliam as discussões e leituras sobre a questão agrária no Brasil. Deste modo, partimos do objetivo central de compreender quais elementos a questão quilombola aciona no debate da questão agrária, a partir da análise do racismo e das relações de poder sobre o uso e apropriação da natureza, na luta pelo território das comunidades quilombolas de Seabra. Ao longo deste estudo, foi possível identificar a presença de uma rede de territórios quilombolas existentes no município de Seabra (Quilombos: Morro Redondo, Agreste, Baixão Velho, Cachoeira da Várzea, Capão das Gamelas, Lagoa do Baixão, Mocambo da Cachoeira, Olhos d’água do Basílio, Serra do Queimadão, Vão das Palmeiras e Vazante) os quais estão, direta ou indiretamente, compondo também uma rede de territórios de comunidades tradicionais em r-existência na região Chapada Diamantina. Territórios estes que diante do cenário de avanço do capitalismo extrativista moderno/colonial se expandem por meio de empreendimentos classificados em três setores: mineração, agronegócio e energético. No campo teórico e metodológico, buscamos construir análises e discussões pautadas na abordagem dos estudos descoloniais e afroepistêmicos a partir de uma perspectiva metodológica escrevivente e “desde dentro”. Apresentamos, portanto, ao longo da pesquisa um conjunto de conceitos que se configuraram como chaves de análise para a elaboração e aprofundamento das questões a saber: quilombos, raça, racismo, colonialidade/modernidade e r-existência. As discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa nos levam a afirmar que estamos diante de uma questão agrária que é racializada, ou seja, a dimensão racial é um componente crucial da problemática agrária brasileira. Entendemos também que estamos diante de geo-grafias racializadas e que são fortemente marcadas pela colonialidade/modernidade da expansão capitalista geradora de violências, conflitos, expropriações, exploração, exclusão, subalternização, dor, sofrimento e morte. No entanto, esta mesma geo-grafia racializada é também uma geo-grafia das r-existências, de saberes, de conhecimentos diversos, da relação com a natureza, da ancestralidade, do viver em comunidade, da prática que constrói um futuro em prol da vida. A questão racial e a questão da natureza se colocam, assim, como chaves desta pesquisa para ampliar as leituras e o enfrentamento da questão agrária e territorial das comunidades quilombolas inseridas nesta proposta.

Como citar...

Barbosa, Aline Miranda. Geo-grafias racializadas: comunidades quilombolas e natureza em disputa (Seabra - Bahia). Tese – UFPR. Curitiba, 2022.

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Aline Miranda Barbosa

Professora do Instituto Federal do Paraná – IFPR/Campus Paranaguá. Doutora em Geografia, na linha de pesquisa de Produção de Espaço e Cultura do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná – UFPR. Mestra em Geografia, na linha de Ordenamento Territorial e Ambiental, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense – UFF. Graduada em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Integrante do Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra – ENCONTTRA (UFPR/CNPq) e do Grupo de Pesquisa Ensino e Ciências Sociais (IFPR/CNPq). Foi integrante do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO (UFF/CNPq) e do Laboratório de Estudos do Espaço Rural (UFSC). Representante do Núcleo de Estudo Afro-brasileiro e Indígena (NEABI) no Campus Paranaguá. Trabalha em temáticas relacionadas as relações étnico-raciais, movimentos sociais, comunidades quilombolas, povos e comunidades tradicionais, cartografia social, conflitos por terra e território. 

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