Essa tese é resultante do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dentro das linhas de pesquisa ‘Linguagens e Ensino’ e ‘Implicações Sociais da Ciência e Tecnologia na Educação’, a pesquisa se concentra em discursos que deflagram apropriações socioculturais de ciência e tecnologia em meios periferizados do Sul global, por particulares desigualdades estruturais. Sobretudo, etnorraciais. Analisa múltiplos enviesamentos na produção de conhecimentos científicos e tecnológicos que têm se processado em resultantes híbridas de tecnociência. Estas que sujeitas a interesses difusos (políticos, éticos, estéticos, ideológicos, ambientais, raciais, etc.), enleiam importantes funcionamentos institucionais, demarcando múltiplas interpretações sobre identidades etnorraciais na Escola e, portanto, na Educação em Ciências. Assim como desvelam outras naturezas da ciência e da tecnologia, encobertas por subalternizações que silenciam/apagam formações discursivas sob éticas de alteridade de base comunitária, em linguagens-autoras de favelas, morros, grotas, assentamentos quilombolas, aldeias indígenas, etc. E por esses estratos sociais, historicamente silenciados e apagados do jogo sociotécnico, faz uma profunda interlocução com o Movimento Hip-hop latino-americano e caribenho. Problematiza sobre a materialidade de discursos e fazeres afrodescendentes e em diáspora, postos em suspenso nos meios educativos formais e não-formais, ora outrificados pela tecnociência hegemônica. Com isso, no ambiente Sul global – espaço-tempo de interpretação sociocultural, etnorracial e socioeconômica, ou seja, não geográfico –, analisa condições de produção do Movimento Hip-hop no Brasil, Chile e Cuba, da epistemologia que circula entre os elementos ‘breaking’ e ‘graffiti/pixo’, assim como na literacia (o Rap e a literatura periférica). Esses referidos países foram definidos conforme o nível de adesão ou renúncia a projetos neoliberais, a exemplo da participação, ou não, no caso de Cuba, no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o PISA. Para tanto, dá resposta às seguintes perguntas de pesquisa: Como promover um revisionismo sociotécnico no campo institucional dentre as atuais condições de produção da tecnociência afrodiaspórica de Sul global, comprometido com as justiças sociocultural, sociopolítica, socioambiental e socioeconômica? Como formular um pensamento tecnocientífico de Sul global que possibilite com que subjetividades e objetividades instituam novos sentidos para cidadanias plurais, fazeres democráticos e cuidados comunitários? Como, a partir desse revisionismo sociotécnico e da formulação desse outro pensamento tecnocientífico, pode-se inferir sobre outro imaginário para a Escola Sul Global? A partir de dois mediadores discursivos – ‘transições de linguagens’ e ‘fazer-ser social e tecnocientífico’ – que emergiram de estudos e pesquisas pretéritos, deflagra funcionamentos de sentidos diaspóricos no artivismo hip-hop, que, para além do que defende como tecnociência hip-hop, aperfeiçoam os resultados de sua tese, como: o Movimento AfroCTS Sur Global, a Escola Sul Global, a afrotecnia, a hiphopnese e a dobra decolonial. Fenômenos socioculturais de uma epistemologia de resistência, formulados e em circulação na genealogia da tecnociência hip-hop e de outras tecnociências em disrupção, que encaminham alternativas para a promoção de justiça cognitiva, democracia e cidadania tecnocientífica, assim como a inclusão sociotécnica de populações subalternizadas em profícuos suis globais.