Corpo, Transnacionalismo Negro e as Políticas de Patrimonialização: As Práticas Expressivas Culturais Negras e o Circuito Afrodiaspórico

O Samba-Rock recebeu o título de patrimônio imaterial da cidade de São Paulo no ano de 2011. Esse reconhecimento dialoga com um amplo movimento de patrimonialização das sedes dos clubes sociais negros nas regiões Sul e Sudeste do país, conforme ocorreu com o Grêmio Recreativo e Familiar Flor de Maio, cuja sede foi reconhecida como patrimônio material da cidade de São Carlos no mesmo ano. Esses processos engendram um importante debate sobre nacionalismo e transnacionalismo das práticas culturais e dos espaços articulados pela diáspora africana nas Américas. A pesquisa investigou, para tanto, os processos e circuitos componentes das práticas e das relações espaciais produzidas na diáspora africana. A investigação teve como aporte conceitos como zona de contato: estado-nação, modernidade, transnacionalismo negro, circuito afrodiaspórico vernacular, cultura negra diaspórica e diáspora africana. Para tanto, utilizei-me das técnicas de observação participante, da incursão etnográfica, da pesquisa bibliográfica e ainda de materiais audiovisuais (filmes, músicas e registros fotográficos), somados a entrevistas abertas e coleta de dados realizados no estado de São Paulo/BR e no estado da Georgia/EUA. Conclui-se que, para compreensão dos trânsitos e dos sujeitos de cujas práticas expressivas culturais negras sejam recriadas, tornou-se necessário acionar um outro elemento de análise como prática expressiva: o corpo. É nele que se expressa o reconhecimento da dança e da música como indissociáveis nas produções do circuito afro diaspórico vernacular. Nesse panorama, a pesquisa se apoiou em uma proposta de narrativa voltada às similaridades e conexões, reconhecendo e pautando as diferenças, passíveis de análise quando associadas a quatro outros elementos: a dispersão, a hibridização, a criatividade/improviso e os sentidos atribuídos ao corpo na constituição de uma cultura negra diaspórica. Dessa forma, passam a ganhar lugar o debate sobre essas práticas e seus espaços como constituinte de uma comunidade de memória tensionando, por sua vez, as noções clássicas do estado-nação, da modernidade e das políticas de reconhecimento (material e imaterial) como estratégias contemporâneas de (re)inscrição das práticas no debate moderno. Além disso, defendi a necessidade da reflexão sobre uma economia política da cultura negra articulada às dinâmicas da produção-regulação consumo das produções culturais expressivas como um dos elementos de (re)criação constante das práticas no circuito afrodiaspórico vernacular.

Como citar...

SOUSA, Karina Almeida de. Corpo, Transnacionalismo negro e as políticas de patrimonialização: as práticas expressivas culturais negras e o circuito afrodiaspórico. 2020. 301 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, São Carlos, 2020.

Karina Almeida de Sousa

Karina Almeida de Sousa

Bacharel em Ciências Sociais, com ênfase em Sociologia (2008) pela Universidade Federal de São Carlos, mestra em Sociologia (2012) e doutora em Sociologia (2020) ambos pela mesma universidade. Realizou estágio sanduíche (PDSE-CAPES) desenvolvido junto a Georgia State University (2018-2019). Especialista em Educação e Patrimônio Cultural e Artístico (2019) pela Universidade de Brasília. Atualmente é professora adjunta vinculada ao curso de Licenciatura em Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão/Campus Grajaú e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia/Imperatriz. É pesquisadora associada a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) e a National Women’s Studies Association (NWSA). É líder do Grupo de Pesquisa Diáspora Africana e Culturas Afrodiaspóricas e membra do grupo de pesquisa Transnacionalismo Negro e Diáspora Africana (UFSCar) e do GRAFITE- Grupo de Pesquisa sobre Ações Afirmativas e Temas da Educação Básica e Superior (UNEMAT). Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia das relações étnico-raciais, transnacionalismo negro, diáspora africana, feminismos negros e educação para as relações étnico-raciais.

Pular para o conteúdo