Ciência do Sagrado na Amazônia. Encontros Entre a Tradição e Modernidade nas Práticas das Pajelanças e Religiões Afro-Brasileiras

As práticas de cura por meio de conhecimento empírico, da experiência e da vivência cotidiana sempre fizeram parte das relações sociais e culturais de populações humanas, em diversos e diferentes contextos e realidades. E a realidade amazônica como portadora de uma riqueza e potencialidade de sociobiodiversidade ampara e sustenta, com criatividade nata, um arcabouço de crenças religiosas, com caráter mágico e místico. O mesmo vai oportunizar a construção de um escopo fundamentado nas heranças ancestrais dos indígenas, com a pajelança indígena, entremeada de novas configurações sob o poder criador do caboclo amazônico, com a pajelança cabocla, e seu caráter sincrético ou sintéticos de tantas outras influências, e a inserção da religiosidade africana, que mesmo não sendo oriunda da Amazônia, absorve com inteligência e sabedoria os conhecimentos já existentes e ressignifica sua religiosidade. Nesse sentido, a presente tese se assenta na discussão de como estas, nos seus procedimentos e rituais, podem gerar um corpo instituinte do que se convencionou chamar nesta tese de ciência do sagrado. É nesse desenho que este trabalho foi construído, no sentido de identificar a constituição de uma ciência do sagrado, sob a luz e direcionamento destas práticas religiosas, que não somente representam e se identificam como religião, mas também ampliam seus horizontes e expandem sua compreensão de mundo e de religião ao se relacionarem e seres mediadores de entidades espirituais, com saberes sobrenaturais, que estão numa dimensão diferente da ciência racional. A intencionalidade do estudo foi de alcançar espaços geográficos diversos e ao mesmo tempo similar na construção das vivências e práticas religiosas na Amazônia paraense, extrapolando os limites até adentrar na Pan-Amazônia, na Tríplice Fronteira: Brasil, Colômbia e Peru. Assim, o campo de pesquisa esteve no estado do Pará, onde se trabalhou com a região metropolitana de Belém do Pará, nos municípios de Belém, Ananindeua e Marituba. No mesmo estado, também se trabalhou no arquipélago do Marajó, nas cidades de Muaná e Soure; e no Baixo Amazonas, na cidade de Juruti. E trabalhou-se também na tríplice fronteira, nas cidades de Tabatinga-AM e Letícia-Co. As categorias teóricas básicas foram: sagrado e religiosidade e ciência na Amazônia; sagrado indígena; religião afro-brasileira; pajelança cabocla alicerçada à discussão da “Epistemologia do Sul”, do “perspectivismo ameríndio ou indígena”. A metodologia adotada possui uma orientação interdisciplinar, pautada na pesquisa qualitativa e documental, compreendendo a realidade no seu caráter multidimensional. E em função das discussões teóricas aliadas à análise dos saberes e fazeres dos sujeitos autônomos de cura, conclui-se que existe uma ciência instituída, com um corpo de conhecimento, princípios, metodologias e técnicas próprias, em que há a existência de sujeitos beneficiados e com sustentação efetiva de que a aplicação de tais conhecimentos conseguiu trazer melhoria de vida e alterar o estado de desequilíbrio instalado.

Como citar...

NASCIMENTO, Ana Lídia Cardoso. Ciência do sagrado na Amazônia. Encontros entre a tradição e modernidade nas práticas de pajelanças e religiões afro-brasileiras. Orientadora: Ligia T. L. Simonian. 2018. 379 f. Tese (Doutorado em Ciências do Desenvolvimento Socioambiental) - Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2018.

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Ana Lídia Cardoso do Nascimento

Pós-doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Ciências do Desenvolvimento Sócioambiental/Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido-Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)/UFPA. Mestre em Planejamento do Desenvolvimento-PLADES-Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/NAEA-UFPA. Especialista em Educação Ambiental/Núcleo de Meio Ambiente-NUMA/UFPA. Graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará/UFPA. Professora efetiva da Universidade Federal Rural da Amazônia/UFRA na área de Planejamento e Legislação, lotada no Instituto Socioambiental e de Recursos Hídricos-ISARH. Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Integrante do Grupo de Pesquisa em Educação e Diversidade na Amazônia (GEDAM), coordenação da linha de pesquisa Produção de saberes interdisciplinares no contexto amazônico: estudo das relações entre ambiente, cultura e sagrado. Coordenadora da pesquisa A relação entre sagrado, natureza e cultura na realidade amazônica e as implicações para o bem-viver à luz dos saberes tradicionais.Coordenadora do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID)-UFRA. Coordenou o curso de Licenciatura em Pedagogia (2019-2020). Consultora para elaboração e revisão de Projetos Pedagógicos de cursos de Graduação. Presidente da Comissão para Implementação da Política de Ações Afirmativas para Discentes Indígenas e Quilombolas da UFRA. Coordenadora do Núcleo de Educação e Diversidade na Amazônia (NEDAM)-UFRA. Experiência na área de ensino, pesquisa e extensão em Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Assentamento de Reforma Agrária, Educação Ambiental Empresarial, Educação Ambiental eorganização de comunidades, Elaboração de Projetos e Programas Ambientais e Educacional, Religião Afro-brasileira e a relação com os fenômenos da natureza.

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