AO CORRER DA PENNA: Pretos e pardos letrados na cidade de Cuiabá/MT nos oitocentos.

A presente tese resulta da investigação sobre a extensão do letramento entre pretos e pardos na cidade de Cuiabá, Província de Mato Grosso, entre os anos de 1850 e 1890. Para alcançar seus objetivos, concentrou-se em um contingente de pretos e pardos que moravam nas Freguesias da Sé e São Gonçalo de Pedro II, espaços constitutivos da parte urbana da capital da Província de Mato Grosso naquele período. Para discutir o papel do letramento na circulação da população de origem negra na sociedade oitocentista, naquele território, o estudo elegeu a trajetória de oito sujeitos escolarizados, caracterizados como pretos e pardos, conforme o recenseamento de 1890, na cidade de Cuiabá. Para a construção deste estudo optou-se, pelo cruzamento de dados entre as fontes textuais e o referido recenseamento, possibilitando identificar os sujeitos do ponto de vista das seguintes categorias: nome, idade, raça, estado civil, religião, nacionalidade, e instrução. Considerando-se os processos históricos de ocupação da região que se constituiu como a Província de Mato Grosso, foi possível constatar a supremacia demográfica negra, presença importante na atividade mineradora que atraiu ocupantes desde o período colonial. A cidade de Cuiabá emergiu, no século XIX, como o centro urbano para onde se dirigiram os esforços de construção do Estado Imperial, o que significou a edificação de escolas de vários níveis e o aparecimento de jornais que criavam postos e estimulavam o letramento de seus habitantes. Além da indicação expressa de que “sabiam ler e escrever” no Recenseamento de 1890, a presença de indivíduos de origem negra situados no magistério, no jornalismo, no exército, incluindo um médico, foram tomados como indícios significativos da circulação e do letramento de pretos e pardos. Ao término da pesquisa considera-se que a cidade de Cuiabá era constituída de uma população eminentemente negra, havendo grande difusão da leitura e escrita entre o segmento populacional composto de pretos e pardos. Nesse sentido, salienta-se ter observado uma considerável representatividade destes na burocracia administrativa da capital, e, ressalta-se ainda, que nas comparações sobre a representatividade realizadas dentro do universo do mesmo grupo racial, brancos eram maioria. Considera-se que “negros” ocuparam posições relevantes dentro dos espaços de direção social e política em Mato Grosso, sobretudo na instrução pública, administração pública, religião e segurança público-privada. Dessa forma, o trabalho em tela procura contribuir com as questões que apontam para a ausência de pesquisa sobre o negro em diversas esferas na região Centro Oeste, em específico na cidade de Cuiabá capital do Estado de Mato Grosso.

Como citar...

Dutra, Paulo Sérgio. AO CORRER DA PENNA: Pretos e pardos letrados na cidade de Cuiabá/MT nos oitocentos. Tese – UFF. Niterói, 2017

Paulo Sérgio Dutra

Pós Doutorando pela Universidade Federal Fluminense – UFF, com a pesquisa intitulada: Intelectuais Negros em Mato Grosso entre 1890 e 1941 (2024). Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense UFF (2017), Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso UFMT (2010), Graduado em Pedagogia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIR (1997). Atualmente é Professor do Magistério Superior da Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIR Campus de Ji-Paraná, atuando no Curso de Licenciatura em Pedagogia. Tem experiência na área da Educação básica, e ensino superior. Atua em pesquisas com as seguintes temáticas: relações raciais, educação e formação docente, o negro na literatura infantil, crianças negras e infância, diversidade, negro na historiografia da educação em Mato Grosso e Rondônia, o jornal como fonte de pesquisa, o censo como fonte de pesquisa, as categorias raça/cor, e população negra e educação quilombola. É líder do GEPRAM – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Migração, e integra a Rede de Pesquisa, Ensino e Extensão da Educação nas Regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil e na América Latina RECONAL-Edu, e a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as ABPN.

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