ABPN foi convidada para participar e marcou presença no evento transformador e histórico
Escrito por Helen S.
Revisado e publicado por Nathália Rodrigues
Nos dias 13 a 16 de junho de 2024, Belo Horizonte, a capital de Minas Gerais, foi palco do 3º Encontro Nacional de Povos de Terreiro “ÈGBÉ – Nós Somos”. Organizado pelo Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileiro (CENARAB), o evento, desde a sua primeira edição em 2019, visa reunir lideranças de Povos e Comunidades de Terreiro para traçar estratégias e táticas de sobrevivência, resistência e luta, em defesa de um estado laico, democrático e livre do racismo.
O encontro foi marcado por mesas de debates, análise de conjuntura e grupos de trabalho, com o objetivo de fornecer subsídios essenciais para a luta cotidiana por direitos humanos e liberdade religiosa. Em um momento em que o Brasil enfrenta ameaças à democracia e ao estado laico, o encontro se torna uma iniciativa urgente e necessária. “As violações dos direitos humanos e da liberdade religiosa têm se acirrado, mesmo após a vitória do presidente Lula nas urnas. Ainda enfrentamos setores que lutam pela desestabilização social, política e econômica do país, promovendo o racismo, a homofobia e a misoginia”, destacou Makota Célia Gonçalves Souza, coordenadora nacional do CENARAB.
O Encontro almeja fortalecer uma rede nacional e internacional composta por Povos de Terreiro, por pessoas de outras Tradições Religiosas ou não, que sejam sensíveis e que . Pessoas que estejam dispostas a fortalecer a luta em prol da liberdade religiosa, por direitos humanos, democracia e justiça sócio racial em nossa América Latina e, particularmente, no Brasil.
A ABPN foi convidada a participar do evento e quatro pessoas envolvidas na luta dos povos de terreiro foram representando a organização. Dentre elas, Denise Botelho, Tânia Pacífico, Luiz Herculano e Helen S.
Para Denise Botelho, “Participar do 3º Ègbé é um teste de fé e de resistência. Muitas vertentes reunidas para pensar políticas públicas para o Povo de Axé, tarefa bastante árdua em um país intensamente racista, que tem por tradição desqualificar quaisquer aspectos da cultura negra. Mas seguiremos conquistando espaços de poder para honrar nossa ancestralidade.”, enfatizou a ialorixá.
O evento mostra-se uma experiência única, um espaço de convivência de ialorixás e babalorixás do Brasil inteiro, integrantes das diversas religiões de matrizes africanas, co-existindo harmonicamente, visando a garantia de direitos, respeito à crença e vivência do sagrado de cada vertente ali representada. O conhecimento se fez presente na representação dessas figuras de liderança e através de falas potentes como as de Nilma Lino Gomes, Hédio Silva, Benilda Brito, Joelzito Araújo, Rosa Margarida, Cida Bento, Iris Amâncio, Iêda Leal, entre outras/os que lá estavam.
“A sensação mais forte de alegria, fortalecimento e axé inundava o ambiente ao toque do tambor e danças sagradas, puxadas pelos representantes das diversas religiões. Foi uma alegria imensa sentir, a força e o poder dos representantes maiores das diversas religiões, em suas falas de sabedoria, gestos de simplicidade e acolhimento. A caracterização e o vestuário foi uma experiência de requinte, bom gosto e expressão de crença e direito de ser e sentir as religiões de matrizes africanas.”, disse Tânia Pacífico. Ela ainda enfatizou o importante trabalho da organização e o poder de transformação do evento: “Lindo de ver e de viver. Makota Celinha demonstrou força, determinação e garra ao organizar um evento tão importante e ao lidar com as adversidades. Parabéns a ela, Cenarab e sua equipe valorosa. Todas/os/es participantes voltaram para casa com um fio de contas de Oxalá e uma muda de baobá e com certeza quem lá esteve, não voltou da mesma forma que foi, pois foi transformada/o/e pela força da união e do axé.”
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) doou 500 mudas de Baobá para as pessoas participantes do evento. Em um gesto extremamente significativo para a população negra e em especial para as mães e pais de santo, que puderam levar para os seus terreiros essa árvore sagrada.
O prof. Luiz Herculano ressaltou a emoção com a participação no encontro: “É difícil traduzir em palavras a energia que o 3º Ègbé passa. Enquanto alguém que se encontrou no candomblé, ver tanta gente de religiões de matriz africana junta, debatendo e discutindo sobre suas realidades foi lindo demais. Em muitos momentos fiquei emocionado e penso que a ABPN pode contribuir bastante para levar desses espaços ideias necessárias para o combate à intolerância religiosa. Eu voltei do evento muito pensativo e ao mesmo tempo com fôlego para novos desafios ligados as religiões que fundam muitos dos saberes ancestrais que chegaram até nos negros e negras.”, enfatizou o professor.
Helen S., destacou que “Foi no Ègbé que eu reconheci minhas raízes, e assim mesmo, no plural. Foi lá que eu vi o tempo e corpo espiralar como se eu fosse uma árvore bonita, segura diante das intempéries da vida. Me lembrou um provérbio africano que diz: ‘A árvore que esquece suas raízes não alcança o céu’. Foi isso que vivi no 3º Ègbé. Comunidade. Sociedade. Irmandade. Obrigada ABPN, CENARAB, 3º Ègbé e todas as pessoas que me permitiram acessar os mistérios de vocês e de mim mesma.”
A ABPN expressa sua profunda admiração e gratidão ao CENARAB e à organizadora Makota Celinha por sua garra e compromisso em realizar o III Ègbé. Celebramos o impacto transformador deste evento e esperamos que ele continue a ser uma força poderosa por muitos anos, inspirando e conectando pessoas. Agradecemos especialmente à Makota Celinha por sua liderança inspiradora, dedicação incansável e contagiante. Sua visão e trabalho árduo foram essenciais para o sucesso do evento. Os frutos do III Ègbé já são evidentes, e estamos confiantes de que este evento continuará a inspirar mudanças positivas e a cultivar um futuro promissor para todos os envolvidos.