“Solidão”: Produção do Pensamento Feminista Negro no Brasil

Chamada para Publicação de Artigos  WSQ Outono de 2020 Tema de Estudos Trimestrais sobre as Mulheres Periódico Feminista

Editoras Convidadas: Tanya Saunders, Universidade da Flórida Luciane Ramos-Silva, O Menelick2Ato & Acervo África Sarah Soanirina Ohmer, Faculdades Lehman, Universidade da Cidade de Nova Iorque Giselle dos Anjos Santos, Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as; Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades & Universidade de São Paulo

“Solidão”: Produção do Pensamento Feminista Negro no Brasil Prazo para Submissão: 05 de setembro de 2019

O campo de estudos do feminismo negro está crescendo ampla e significativamente nos últimos anos no Brasil. Desde feministas negras como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, entre outras, é enfatizada a relevância da interação entre gênero, raça e classe, enquanto elementos centrais para a compreensão da sociedade brasileira. Por exemplo, em “Enegrecer o Feminismo”, Sueli Carneiro aponta que o campo de estudos e as lutas feministas postularam a ideia hegemônica sobre a categoria Mulher, associada à vivência feminina branca, em detrimento ao conhecimento, experiências e a história das mulheres negras.

Uma das discussões levantadas por essa produção é o tema da solidão. Em “Virou Regra?” (2011) e “Mulher Negra: Afetividade e Solidão” (2013), Claudete Alves e Ana Cláudia Lemos Pacheco perguntam: “Como a raça, gênero e outros marcadores sociais impactam as escolhas afetivas das mulheres negras?” Alves e Pacheco engajam a solidão (em inglês, loneliness) como ponto crucial das demandas sociais e expectativas das mulheres negras, num contexto global de hipercapitalismo e hiperssexualização, onde no Brasil as mulheres pretas e pardas são mantidas fora do “mercado afetivo” e naturalizadas no “mercado sexualizado” como corpos erotizados, subordinados (trabalhadoras domésticas) e, em contrapartida, as mulheres brancas são assimiladas na cultura afetiva de heterossexualidade respeitável. 

Moldado a partir de diversas teorias e experiências de mulheres negras brasileiras, Solidão descreve o isolamento compartilhado como um fenômeno relacional afetivo com significados tão múltiplos quanto o número de mulheres negras. A solidão é inerente às experiências de mulheres negras brasileiras considerando os vetores históricos, sociais e raciais que atravessam essas experiências. É um conceito oriundo dos estudos de gênero produzidos por feministas negras brasileiras que não têm um equivalente no idioma inglês e na produção feminista norte-americana. Ainda assim, o sentimento e a experiência, se traduzem. Como a arte é uma expressão da vida, a solidão ressoa nas artes criativas e performáticas assim como na experiência vivida por este grupo.

Desta forma, questionamos, como você lê/experimenta/aborda a solidão? Esta edição da WSQ convida a teoria crítica interseccional de acadêmicas-ativistas e artivistas a confrontar os sistemas de opressão, desafiando a ideia de universalismo e a crença limitada de que a humanidade é branca, masculina, heterossexual, saudável, magra, norte-americana, classe média e cristã (AKOTIRENE, 2017). Neste sentido, desejamos evidenciar como está sendo desenvolvida a teoria interseccional, enquanto uma produção de conhecimento afro-atlântica e afro-diaspórica fora dos Estados Unidos, no contexto do Sul e, mais especificamente, entre as brasileiras. 

Ao mesmo tempo em que reconhecemos as raízes históricas e o significado social / racial da solidão, convidamos submissões que levem em conta como a solidão é vivenciada de maneira diferente, baseada em subjetividades diferenciais e semelhanças comunais. Por exemplo, uma vez que a solidão pode implicar em uma experiência afetiva central para a formação da subjetividade interseccional, como podemos engajar a solidão de mulheres negras e da comunidade negra LGBTQ+ no protagonismo de sua história e da produção de seu conhecimento?  Encorajamos o engajamento de feministas e queers negras brasileiras de diversos espaços de inserção e múltiplas camadas que ainda não foram traduzidas para o inglês, para expor os conceitos, linguagens, teorizações e ativismo desenvolvidos em seu cenário, como um ato de solidariedade transnacional com outras mulheres africanas, afro-atlânticas e queers; para reconquistar e recuperar as teorias negras embranquecidas na tradução para o inglês. Nós vamos considerar os trabalhos com perspectivas transnacionais entre a produção feminista negra e/ou queer com produções teóricas sobre política de racialização e afetividade que circularam por meio de línguas e fronteiras geopolíticas entre os séculos XVI e XXI. 

Nós convidamos para a publicação de contribuições focadas e desenvolvidas a partir do ponto de vista das mulheres negras, considerando múltiplos enfoques (não apenas sobre o tema da solidão). Listamos alguns tópicos desejados, mas salientamos que esta lista não é exaustiva:

● Feminismo negro;  ● Lésbicas negras (sapatões, butch e outras dissidências sexuais);  ● Transfeminismos negros;  ● Mulheres quilombolas;  ●Interseccionalidades (na diáspora africana e comunidades indígenas; interseccionalidade na performance, literatura, artes plásticas, música, cinema, etc.); ● Pedagogias afro-feministas, descentralizadoras da lógica do branqueamento e da heteronormatividade;  ● Construção da subjetividade dos/das sujeitos/as racializados/das;  ● Teoria feminista negra e a política de tradução;  ● Mulheres negras e intimidade;  ● Solidão como resistência e/ou como busca de felicidade (por exemplo, mulheres negras e autocuidado);  ● Representação versus invisibilidade;  ● A intersecção do racismo e da opressão de gênero no local de trabalho/local de estudos (Mulheres negras e LGBTQ+); ● Solidariedade compartilhada e solidariedades transnacionais;  ● Histórias e mitos de mulheres negras pioneiras (Dandara, Aqualtune, Nanny, Ezili Je Wouj); ● América Latina, Caribe e África como espaços geopolíticos racializados e de gênero;  ● Abordagens interseccionais às religiões de matriz africana e/ou afro-atlântica;  ● Afeto e formação da/do sujeita/o racializada/o (por exemplo, afeto negro queer); ● Crítica de mulheres negras com deficiência em relação à solidão; ● Genealogias da teoria das mulheres de cor; ● Teoria do afeto e mulheres de cor; ● Os mundos internos das mulheres negras (ou seja, afetivo, psíquico, neurológico, etc.).

As submissões podem ser em inglês, português e/ou espanhol. Consideraremos ensaios multilíngues e podemos aceitar ensaios em outros idiomas – consulte as editoras convidadas antes de enviar em um idioma diferente dos indicados acima. Os artigos acadêmicos e possíveis dúvidas devem ser enviados para as editoras convidadas: Tanya Saunders, Luciane Ramos-Silva, Sarah Soanirina Ohmer e Giselle dos Anjos Santos, no seguinte e-mail: wsqsolidao@gmail.com.

ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO

Para o envio de artigos Data limite: Consideraremos as inscrições recebidas até 05 de setembro de 2019.  Número de palavras: As inscrições não devem exceder 6.360 palavras (incluindo resumo, palavras-chave, notas inseridas, legendas e trabalhos citados) e devem estar em conformidade com as diretrizes de formatação da Feminist Press (Imprensa Feminista).  Formato: Por favor, envie os artigos completos, não apenas os resumos. Nós preferimos os formatos de arquivo do Microsoft Word. Por favor, forneça todas as informações de contato no corpo do e-mail. Não aceitamos trabalhos que tenham sido publicados anteriormente ou em revisão em outro periódico.

Para o envio de poesia

Os envios de poesia relacionados ao tema da questão devem ser enviados para a editora de poesia da WSQ, Patricia Smith, em WSQpoetry@gmail.com até 15 de setembro de 2019. Por favor, note que as submissões de poesia podem ser mantidas por seis meses ou mais. Submissões simultâneas são aceitáveis se o editor de poesia for notificado imediatamente de aceitação em outro lugar. Não aceitaremos trabalhos que tenham sido publicados anteriormente. Por favor, cole os comprovantes de envios da poesia no corpo do e-mail, juntamente com todas as informações de contato.

Para o envio de produção literária

Para envios de ficção, ensaio, memórias e tradução relacionados ao tema, serão aceitas entre 2.000 e 2.500 palavras, – devem ser enviados para a editora de ficção/não-ficção da WSQ, Rosalie Morales Kearns, em WSQCreativeProse@gmail.com até 15 de setembro de 2019. Revise os números anteriores do WSQ para ver o tipo de envios de nossa preferência antes de nos enviar a prosa. Por favor, note que as apresentações em prosa poderão ser mantidas por seis meses ou mais. Submissões simultâneas são aceitáveis se o editor de prosa for notificado imediatamente da aceitação dos textos em outro lugar. Não aceitamos trabalhos que tenham sido publicados anteriormente. Por favor, forneça todas as informações de contato no corpo do e-mail.

Sobre a WSQ

Desde 1972, a WSQ tem sido um fórum interdisciplinar para a troca de perspectivas emergentes sobre mulheres, gênero e sexualidade. Suas questões temáticas interdisciplinares, revisadas por pares, enfocam tópicos tais como diásporas asiáticas; protesto; beleza; trabalho precário; solidariedade; métodos peculiares, ativismos, o global e o íntimo; trans-; vida sexual e maternidade, combinando trabalho jurídico, cultural, tecnológico e histórico para apresentar a mais emocionante nova bolsa de estudos, ficção, não-ficção criativa, poesia, resenhas de livros e artes visuais em ideias que envolvem leitores populares e acadêmicos da mesma forma. A WSQ é editada por Jillian M. Báez (Colégio de Staten Island, CUNY) e Natalie Havlin (Colégio Comunitário LaGuardia, CUNY) e publicada pela Editora Feminista na Universidade da Cidade de Nova York.  Para mais informações, visite o site: http://www.feministpress.org/wsq

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