Humor como Espaço de Disputa

A mitigação do humor racista a partir da atualização da Lei nº 14.532/2023 e o aumento de humoristas negros/as no enfrentamento ao racismo no cenário humorístico brasileiro.

Escrito por Soraia Bevenuto

Revisado e publicado por Helen Silva e Maria V. Gonçalves

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O humor é uma ferramenta poderosa que pode ser usada para fins diversos, incluindo o entretenimento, a crítica social e a resistência política. No contexto do racismo, o humor pode ser usado para reforçar estereótipos e preconceitos, ou para desconstruir-los e promover a igualdade. O humor pode ser encontrado em diversos contextos, incluindo ambientes pessoais, públicos e midiáticos, sendo usado para atingir um público amplo e influenciar a opinião pública. 

 

Ao longo da história, o humor tem sido muitas vezes usado para ridicularizar e desumanizar pessoas negras. Nunca foram raras as brincadeiras tidas como “inofensivas”, mas de cunho racistas, através de personagens estereotipados, memes que naturalizam ideologias racistas que estão sempre associando pessoas brancas como bonitas, bem sucedidas, enquanto pessoas negras são colocadas na cena como invejosas, feias, preguiçosas, entre outros adjetivos sempre negativos.

Esse tipo de humor, que pode ser chamado de humor racista, é baseado em uma perspectiva de superioridade branca e inferioridade de pessoas negras, naturalizando a ideia de que é aceitável rir delas.

No entanto, o humor também pode ser usado para fins antirracistas, a este sendo chamado de humor antirracista, constituindo-se uma poderosa ferramenta baseada em uma perspectiva de igualdade e de enfrentamento ao racismo recreativo. O humor antirracista pode ser usado para desmascarar o racismo, reforçar a identidade negra, fortalecendo a autoestima da pessoa negra; promover a empatia, diante de diferentes raças/etnias, gerar empatia entre pessoas de diferentes.

A aprovação da Lei nº 14.532/2023, em janeiro do ano passado, equipara o crime de injúria racial ao crime de racismo, é um passo importante para combater o racismo recreativo. Essa lei torna mais difícil a propagação de conteúdo racista sob a desculpa de “é só uma piada”. A pena tornou-se mais severa com reclusão de dois a cinco anos, além de multa, e agora não cabe mais fiança e o crime é imprescritível. O texto da Lei ainda especifica a penalidade para casos de crime cometido nos meios de comunicação social (redes sociais, rede mundial de computadores ou de qualquer publicação) ou em contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público.

Na contrapartida antirracista dessa disputa na arena do humorística, além da aprovação da Lei 14.532/2023 que coibe, de maneira explicita e devidamente qualificada a proliferação de conteúdo racista, o aumento da presença de comediantes negros/as na mídia é um sinal de que o humor antirracista está ganhando espaço. Esses/as comediantes que passam a não tolerar práticas de microagressões de cunho racial de modo mais enfático, tornam-se protagonistas dos discursos e imagens sobre si e sua comunidade. Assim, além de preservarem sua dignidade racial, estão usando seu talento para desconstruir estereótipos e preconceitos, e para promover a igualdade racial. 

 

Eis alguns desses/as comediantes negros/as que pertencem à nova geração:

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YAS FIORELO

 

Humorista e apresentadora do Splash Show. Adepta das religiões de matriz africana. Perfil no Instagram: @yasfiorelo . Imagem: Reprodução/Instagram

 

Citação: “Eu sempre trato minha religião com o objetivo de mostrar para as pessoas que o candomblé e a umbanda não são o que elas sempre pensaram que fossem. É tirar da cabeça das pessoas que a gente está ali adorando o diabo” – Fonte: Uol (16/10/2022)

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YURI MARÇAL

 

Comediante e ator brasileiro. É formado em teatro e TV pela Escola de Atores Wolf Maya. Perfil no Instagram:@oyurimarcal. Imagem: Reprodução/Instagram

 

Citação:  ‘Muita coisa precisa do aval branco para ser validado no audiovisual’ – Fonte: Folha de São Paulo (19/03/2022)

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THAMIRYS BORSAN 

 

Humorista, dramaturga e atriz, graduada em Licenciatura em Teatro pela Universidade Estácio de Sá. Perfil no Instagram: @thamirysborsan. Imagem: Rogério Jorge.

 

Citação:“Basta ser de verdade, se for autêntico, o povo vai gostar, temos que ser nós mesmos, este é o maior sinal de representatividade” – Fonte: Voz das comunidades

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JOÃO PIMENTA

 

Humorista baiano e produtor de conteúdo para a internet.  Perfil no Instagram: @joaoseupimenta. Imagem:Divulgação/@siga_will

 

Citação: “Minha comédia incomoda a quem causou sofrimento e achou que nunca seria atacado” – Fonte: Brasil de fato

A disputa entre o humor opressor e o humor antirracista é uma disputa simbólica que tem implicações reais para a sociedade. O humor antirracista tem o potencial de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Enfrente o racismo em todas as áreas e dimensões de expressão.

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