Segundo Frantz Fanon, teórico martinicano, muitos dizem que “o racismo é uma chaga da humanidade. Mas é preciso que não nos contentemos com essa frase. É preciso procurar incansavelmente as repercussões do racismo em todos os níveis de sociabilidade” (FANON, 1980). Portanto, não podemos nos satisfazer com argumentos e explicações simples, tais como o “racismo é uma chaga da humanidade”. É necessário e urgente refletir sobre como esta violência que é o racismo em suas diversas faces atua na sociedade, para, assim, buscar caminhos de evidenciá-la e, posteriormente, suprimi-la.
A autora norte-americana bell hooks argumenta que, “[…] num contexto social capitalista de supremacia patriarcal branca […], nenhuma negra pode se tornar uma intelectual sem descolonizar a mente” (HOOKS, 1995, p. 474). Partimos, portanto, desse pressuposto para a elaboração deste dossiê, cuja proposta é reunir artigos que contribuam para a descolonização das epistemologias acerca das relações de raça; gênero e raça; e raça e classe nas diásporas africanas.
No que tange ao Brasil, país da diáspora africana, em janeiro de 2003 foi promulgada a Lei Federal 10.639 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nos currículos escolares. A partir de então, publicações que abordam a temática, nas suas múltiplas perspectivas, aumentaram e ganharam visibilidade.
No entanto, apesar dos efeitos dessa política de ação afirmativa, ainda há muito a se fazer por uma educação antirracista, assim como se refletir sobre as relações de raça, gênero, sexualidade e classe nas diásporas africanas, bem como sobre o modo como essas relações atuam na conformação das subjetividades, identidades e ações nestas sociedades marcadas pela presença da população negra.
Nessa perspectiva, o dossiê “Dinâmicas das relações raciais nas diásporas africanas” tem como proposta reunir trabalhos que abordem temas relacionados às dinâmicas interseccionais de relações de raça nas diásporas africanas, bem como seus desdobramentos no campo do ensino e da educação, em espaços formais e não formais. Espera-se receber artigos resultantes de pesquisas empíricas subsidiadas por abordagens teóricas pós-coloniais, decoloniais e feministas negras.
Organizadores/as: Prof. Dr. João Gabriel do Nascimento Nganga (Doutor em História Social, vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – NEAB, da Universidade Federal de Uberlândia – UFU) e Profa. Dra. Jaciely Soares da Silva (Doutorado em História pela UFU e Professora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – Campus Salinas)
Prazo de submissão: 22 de maio de 2020.