É com imenso respeito e orgulho àquelas que nos antecederam que apresentamos a “Insubmissas Negras”. Evocando nossas ancestrais e parafraseando o discurso da Sojourner Truth proferido em 1851, durante a Convenção dos Direitos das Mulheres de Ohio, em Akron, perguntamos e nós, mulheres negras nas ciências, não somos também pioneiras?
O que vocês encontrarão em “Insubmissas Negras” é fruto das lutas e enfrentamentos das mulheres negras, do passado e do presente, que produzem conhecimento e contribuem para a ciência nacional. É, também, o resultado de investigações que um grupo de pesquisadoras realizou para identificar nossas cientistas negras e desvelar suas histórias.
As “Insubmissas Negras” vieram para mudar a cara de quem faz ciência, elas mostram que a intelectualidade negra está presente, é crescente e veio para ficar. Que essa edição do “Insubmissas Negras” no Brasil, sirva de inspiração para muitas meninas e jovens que, historicamente, mesmo sendo pioneiras, não são pensadas como cientistas.
Nós, Anna M. Canavarro Benite (Anita Canavarro), Bárbara Carine Soares Pinheiro, Denise Alves Fungaro, Eliza Maria Ferreira Veras da Silva, Enedina Alves Marques, Joana D'Arc Félix de Souza, Jurema Pinto Werneck, Katemari Diogo Rosa, Lélia Gonzalez, Maria Beatriz Nascimento, Megg Rayara Gomes de Oliveira, Nair da França e Araújo, Nilma Lino Gomes, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Simone Maria de Moraes, Sônia Guimarães, Sueli Carneiro, Vanicléia Silva Santos, Zélia Maria Da Costa Ludwig e tantas outras, somos ancestrais, somos pioneiras, somos o presente e somos o futuro.
Anna Benite (Anita Canavarro)
A professora Anna Mª Canavarro Benite é Doutora e Mestra em Ciências e Licenciada em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI) e Coletivo Negro Ciata do Instituto de Química da Universidade Federal da Goiás. Idealizadora do Projeto Investiga Menina, que busca inspirar alunas negras a seguirem nas carreiras de exatas e científicas.
Bárbara Carine Soares Pinheiro nasceu em 1987 na periferia de Salvador, bisneta de Vicença, neta de Djanira Soares e filha de Teresinha Soares de Jesus. Bárbara conta que cresceu livre pelas ruas do seu bairro e que ainda se recorda muito bem do cheiro de barro vermelho, que sentia após o cair da chuva. Graduou-se em 2010 pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestra em 2012 e doutora em 2014. Professora do Instituto de Química na UFBA. Hoje, Bárbara se define como: pesquisadora crítico-decolonial, feminista antirracista, nordestina, pagodeira, bissexual, mulher cis negra, mãe, mas, também, não se define: abre-se num movimento constante de construir-se ou, talvez, de ser construída.
Denise Alves Fungaro nasceu em São Paulo em 1959, vindo de uma família de origem simples e de condição humilde. Desde a infância, sua atenção e curiosidade foram despertadas pela química e, na escola, seu interesse por essa ciência aumentou de forma significativa. Fez um cursinho pré-vestibular e em 1978 iniciou a graduação em Química na Universidade de São Paulo (USP). Forma-se em 1983 e ingressa no mestrado na USP, concluindo-o em 1987. Já no ano seguinte, ingressa no doutorado também na USP, finalizando-o em 1993. Atualmente, é coordenadora de projetos de pesquisa com foco, principalmente, no desenvolvimento de materiais de valor agregado a partir de resíduos, otimização de telhado verde e adição de resíduo em matriz cimentícia. Pesquisadora altamente premiada, Denise integra também o grupo de estudos intitulado "Saúde Planetária" do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
Megg Rayara Gomes de Oliveira nasceu em 08 de outubro de 1975, em Cianorte, no interior do Paraná. Era uma criança bicha portadora de uma sexualidade disparatada. Na escola foi apresentada às normas de gênero de maneia muito violenta. A produção artística apareceu na sua vida, como uma possibilidade de transgressão e de comunicação com manifestações de seu íntimo. Ingressou no curso de Licenciatura em Desenho e Plástica e após ser reprovada por 4 vezes no mestrado tinha a consciência que a academia tinha suas características normalizadoras e normatizantes. Em 2017, tornou-se a primeira travesti negra a obter o título de doutora no Brasil. Em 2019 foi nomeada como professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, atualmente é a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da UFPR.
Eliza Maria foi uma pioneira na matemática no Brasil, sendo a primeira mulher professora no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal da Bahia (UFBA) a ter doutorado. Também foi a mulher negra do Brasil com o título mais antigo de doutorado na área de Matemática
Enedina Alves Marques nasceu no dia 13 de janeiro de 1913. Única menina entre os 10 irmãos. Filha de doméstica, foi criada na casa da família para quem sua mãe trabalhava. Em 1927, começou a estudar na Escola Normal onde frequentou até 1931, formando-se no curso Normal. Foi a primeira mulher e a primeira negra a se diplomar em Engenheira Civil do Brasil, desafiou os padrões acadêmicos e sociais.
Nascida no interior de São Paulo e de origem social pobre, Joana D’arc se graduou bacharel em Química pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 1986. Tounou-se Mestre em Química em 1990 e Doutora em Ciências em 1994, também pela UNICAMP. Atualmente, a Dra. Joana trabalha com resíduos de curtume do setor coureiro-calçadista, interesse oriundo de um problema que tinha em sua cidade natal na qual o seu pai trabalhava em um curtume e tinha dificuldades em tratar tais resíduos. A partir desses resíduos, a cientista brasileira desenvolveu várias tecnologias que estão sendo transferidas para a indústria. Seus trabalhos, de grande relevância científica e social, renderam à pesquisadora várias premiações e a consagram um dos maiores nomes da Química no Brasil.
Jurema é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Fluminense. É Mestra em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia/COPPE/UFRJ. Jurema também é Doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Também é Diretora da Executiva da Anistia Internacional Brasileira, integrante do Board of Directors do Global Fund of Women, o Conselho de Administração do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Jurema é co-fundadora do CRIOLA, uma organização não governamental que atua na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras.
Katemari Diogo Rosa nasceu dia 16 de Outubro de 1979 em Porto Alegre. Fez o ensino fundamental em uma escola pública e o ensino médio no curso técnico em Secretariado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde a adolescência já demonstrava afetividade pela área da física. Licenciada em Física na UFRGS. Mestra em Ensino de História e Filosofia de Ciência pela UFBA. Doutora em Science Education pela Columbia University. Professora adjunta da Universidade Federal da Bahia, onde pesquisa sobre ensino de física e formação de professoras e professores de física, física nas séries iniciais e discussões que envolvem as interseccionalidades de gênero, sexualidades, raça, etnia e status socioeconômico na construção e no ensino das ciências.
Katemari Diogo Rosa nasceu dia 16 de Outubro de 1979 em Porto Alegre. Fez o ensino fundamental em uma escola pública e o ensino médio no curso técnico em Secretariado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde a adolescência já demonstrava afetividade pela área da física. Licenciada em Física na UFRGS. Mestra em Ensino de História e Filosofia de Ciência pela UFBA. Doutora em Science Education pela Columbia University. Professora adjunta da Universidade Federal da Bahia, onde pesquisa sobre ensino de física e formação de professoras e professores de física, física nas séries iniciais e discussões que envolvem as interseccionalidades de gênero, sexualidades, raça, etnia e status socioeconômico na construção e no ensino das ciências.
Lélia Gonzalez foi uma memorável ativista e intelectual negra. Estudou e combateu o racismo e o sexismo, estudos hoje chamados de interseccionalidade que já eram tratados por Lélia antes do surgimento da palavra. Lélia se graduou em História e Geografia, era Mestra em Comunicação e Doutora em Antropologia Política. Também foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação e o Racismo (MNUCDR) em 1978, que hoje é o Movimento Negro Unificado (MNU). Lélia publicou inúmeras obras que contribuíram e contribuem para as discussões sobre a problemática racial e a mulher negra no Brasil.
Maria Beatriz do Nascimento nasceu em Aracaju em 1942 e seus pais migraram com os dez filhos para o Rio de Janeiro na década de 1950. Ingressou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aos 28 anos no curso de História. Formou-se em 1971 e passou a lecionar na rede pública estadual de ensino do Rio de Janeiro articulando sua prática de ensino com a pesquisa. Concluiu sua pós-graduação Lato Sensu em 1981, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Roteirizou Ôri (1989, 131 min), filme e documentário de sua autoria dirigido pela socióloga e cineasta Raquel Gerber. Sua trajetória sempre esteve relacionada a temáticas como racismo e aos quilombos, abordando a correlação entre corporeidade negra e espaço com as experiências diaspóricas dos africanos e descendentes em terras brasileiras, por meio das noções de “transmigração” e “transatlanticidade”. Cursava seu mestrado em comunicação social na UFRJ, sob a orientação Muniz Sodré, quando teve sua história brutalmente interrompida em 1995.
A professora Nair da França e Araujo nasceu em 1931 na cidade de Maragogipe, interior da Bahia. Filha de Victorina da França e Araújo, dona de casa, e de Elpidio Cyrilo de Araújo, marceneiro. Foi a primeira mulher a se graduar, na Bahia, em bacharelado em Química no ano de 1954, quando o Curso ainda funcionava na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, hoje UFBA. Cursou em 1959, Especialização em Química Orgânica na Universidade de São Paulo (USP) e em 1976 defendeu a sua dissertação de mestrado em Química Orgânica desenvolvendo uma pesquisa de síntese de nitrilas partindo de aldeídos em compostos orgânicos em parceria com o Pólo Petroquímico local.
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva nasceu em Porto Alegre, no bairro Colônia Africana, à Rua Esperança, em 1942. É licenciada em Letras - Português e Francês (1964), possui mestrado em Educação (1979) e é doutora em Ciências Humanas - Educação (1987) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Petronilha se aposentou em 2012, quando lhe foi outorgado o título de Professora Emérita da UFSCar. Além disso, promove e desenvolve ações por uma educação de alta qualidade e pela luta por uma convivência tolerante, harmoniosa e sem preconceitos em nossa sociedade.
A professora Nilma Lino Gomes é formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é Mestra em Educação na mesma universidade e Doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP). A professora Nilma também é Pós-Doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra e Pós-Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). É professora Emérita da Faculdade de Educação da UFMG. Também foi Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) em 2015 e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos de 2015 a 2016 do governo da presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff.
A professora Simone Maria de Moraes é bacharela em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é Mestra em Matemática pela Universidade de São Paulo e Doutora em Matemática pela Universidade de Campinas. A professora Simone desenvolve inúmera pesquisas, e umas das suas áreas de interesse é a Geometria Diferencial, Teoria da Singularidade e Topologia.
Sonia Guimarães, nascida em São Paulo em 1956, filha de tapeceiro e de dona de casa, sempre foi a segunda da classe em todas as matérias e era uma apaixonada pelas professoras e pelos professores de Matemática, Física e Química. Em 1974, conclui o colegial e então ingressa no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde faz o curso técnico em edificações. Ela ingressa no curso de Licenciatura em Ciências na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o conclui em 1979. Então, em 1983, finaliza o mestrado em Física Aplicada pelo Instituto de Física e Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP). Em 1989, Sonia obtém o título de Ph.D. em materiais eletrônicos pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester. Em 1993, Sonia torna-se professora de Física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Atualmente, é funcionária do Ministério da Defesa do Brasil, no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), como professora adjunta do ITA.
Vanicléia nasceu 25 de agosto de 1977 em Jacobina-BA. Foi à primeira em concluir ensino médio, ali percebeu que seguir o caminho dos estudos abriria muitas possibilidades para ter uma vida melhor para sua família. Concluiu sua graduação em 1998 na UNEB, fez seu mestrado na (PUC/SP), doutorado na Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela The University of Texas at Austin (2016). Atualmente é professora e pesquisadora na Universidade Federal de Minas Gerais. Vanicléia é uma grande referência para todos/as nós sobre a história de África.
Aparecida Sueli Carneiro nasceu na cidade de São Paulo em 24 de junho de 1950. Sua origem familiar é de operários, logo cresceu em um ambiente familiar com princípios comunitários e sociáveis. Estudante na Faculdade de Filosofia na Universidade de São Paulo. De sua atuação política, do movimento negro e de mulheres negras, serviu de base para sua formação militante. Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) é filósofa, ativista no movimento antirracista, escritora e uma das principais pensadoras do feminismo negro no Brasil.
Zélia Maria da Costa Ludwig nasceu em 22 de abril de 1968 na cidade de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro. Filha de um torneiro mecânico e uma dona de casa. Incentivada pelo seu pai, costumava folhear revistas de eletrônica lia sobre componentes eletrônicos e como montar circuitos elétricos. Em 1989, graduou-se em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, fez mestrado no IPEN, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, na USP, onde obteve o título em 1994. No doutorado, ela vislumbrou a possibilidade de trabalhar com novos materiais, a alteração de suas propriedades para aplicações específicas. Em 2000, obteve seu título de doutorado juntamente com mais um diploma de graduação. Em 2007, Zélia Ludwig entrou na Universidade Federal de Juiz de Fora como professora visitante. Dois anos depois, tornou-se professora efetiva da instituição onde trabalha até hoje.